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sexta-feira, novembro 22, 2024

O Novo ‘Esquema’ das Farmácias: Descubra o Que Acontece Quando Você Fornece Seu CPF por Desconto

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Bruno Ferreira
Bruno Ferreirahttp://redebrasilnews.com.br/
Além de sua atuação nas redações, Bruno Ferreira também explorou a era digital, envolvendo-se em projetos de mídia online, podcasts e outras formas inovadoras de contar histórias. Sempre em busca de novas formas de se conectar com o público, um defensor incansável da liberdade de imprensa e da importância do jornalismo independente na sociedade contemporânea.

As farmácias no Brasil têm um novo modelo de negócios bilionário que usa os dados pessoais dos consumidores para gerar lucros por meio de publicidade direcionada. Esse processo começa com a pergunta mais comum nos caixas das farmácias: “Qual é o seu CPF?”. De acordo com reportagem da jornalista Amanda Rossi, publicada pelo portal UOL, essas informações são coletadas e utilizadas para vender publicidade de forma direcionada, por meio da RD Ads, subsidiária do Grupo RaiaDrogasil.

Ao dar CPF em troca de descontos que podem ultrapassar 70%, o consumidor alimenta um extenso banco de dados contendo detalhes sobre seu histórico de saúde, como doenças, medicamentos utilizados e contracepção. A Rede Drogasil, maior rede de farmácias do Brasil, armazena essas informações de 48 milhões de clientes e as utiliza para direcionar anúncios com precisão, seja no site da farmácia ou em redes sociais como YouTube e Facebook.

O CEO da RD Ads, Vitor Bertonsini, admitiu em podcast voltado para investidores que solicitar um número de CPF no Brasil é tão natural que 97% dos clientes o oferecem sem hesitação, o que não acontecerá em outros países. Ele comparou essa prática ao uso de um número de seguro social nos Estados Unidos, onde solicitar essas informações para fins comerciais é motivo de intervenção policial.

Apesar dos descontos oferecidos, valores sem CPF podem ser falsos. Em um exemplo citado pela reportagem, o fundo Nimesulide custava R$ 31,78 sem CPF, mas o preço caiu para R$ 8,50 com o documento. No entanto, órgãos públicos e hospitais privados pagam muito menos pelo mesmo medicamento, sugerindo que o preço total é superfaturado para incentivar a entrega de dados pessoais.

Esses dados coletados não se limitam a medicamentos. O banco de dados da RD Ads permite até 20 tipos de filtros, categorizando os clientes como “idosos exaustos” ou “idosos ativos”, por exemplo, e usando essas informações para campanhas publicitárias direcionadas. Um caso mencionado no relatório destacou o uso de dados de pais com filhos pequenos para aumentar as vendas de produtos para bebês em 20%.

No entanto, a prática de usar informações de saúde para direcionar anúncios continua a gerar controvérsia. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) classifica as informações de saúde como dados sensíveis, exigindo maior proteção e a capacidade de proibir seu uso para fins econômicos. Embora a Rede Drogasil afirme que os dados são anônimos, há dúvidas sobre se o anonimato é suficiente para garantir que a lei não seja violada.

O relatório também destaca que o uso de biometria em farmácias foi motivo de protesto público. Em 2021, a jornalista relatou que foi solicitada a apresentar sua impressão digital para obter desconto em seu medicamento, o que provocou indignação e trabalho do Procon e do Instituto de Defesa do Consumidor (IDC). A exigência de biometria diminuiu, mas a demanda pelo CPF continua.

Ainda não existe uma regulamentação clara que proíba ou restrinja o uso de dados de saúde para fins publicitários no Brasil. Enquanto isso, milhões de brasileiros continuam fornecendo suas informações pessoais em troca de descontos sem saber que esses dados podem ser usados para mais do que apenas melhorar os preços dos medicamentos.

Como posso ver os dados que as farmácias armazenam sobre mim?

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) garante que todos os cidadãos brasileiros tenham o direito de saber quais informações pessoais são mantidas por empresas, como farmácias. Este direito permite acessar o histórico de compras, dados de saúde e saber com quais empresas ou outros órgãos públicos seus dados foram compartilhados. Além disso, é possível solicitar a correção de informações incorretas ou até mesmo solicitar a exclusão de seus dados.

Para exercer esse direito, as farmácias são obrigadas a disponibilizar um canal específico para a apresentação desses pedidos. O prazo para resposta é de até 15 dias. Caso a empresa não cumpra esse prazo ou se recuse a atender à solicitação, você pode entrar em contato com a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), que é o órgão responsável por examinar e aplicar sanções com base na LGPD.

Caso deseje solicitar seus dados ou solicitar sua exclusão, entre em contato com o SAC (atendimento ao cliente) da farmácia ou consulte o site da empresa, pois geralmente ele oferece a opção de enviar a solicitação. Certifique-se de detalhar que você está exercendo seus direitos sob a LGPD e solicitando acesso ou exclusão das informações que eles têm sobre você.

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