O Supremo Tribunal Federal adiou a sentença para decidir sobre a correção dos valores depositados nas contas do fundo de rescisão. O ministro Roberto Barroso remarcou para 8 de novembro, dependendo da decisão tomada, o acesso à moradia para a população mais pobre pode ser dificultado, segundo especialistas.
Atualmente, o rendimento do FGTS é a taxa referencial (TR) acrescida de 3% ao ano. Caso a mudança ocorra, essa correção será de TR mais 6% ao ano, que também é utilizada por meio da poupança. Segundo a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), se a mudança for aprovada, os recursos que atendem ao programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) aumentarão em até três pontos percentuais.
“O FGTS é extremamente importante para a habitação popular. O impacto dessa mudança será dramático. Só para se ter uma ideia, isso vai afetar três em cada quatro beneficiários do Minha Casa Minha Vida”, explicou Luis Antonio França, presidente da Abrainc.
Vale ressaltar que o financiamento do FGTS é o mais utilizado para o MCMV.
Como o aumento do FGTS afeta o programa?
Com a proposta, o fundo vai produzir mais e, consequentemente, o custo dos recursos aumenta, o que também aumenta os juros do crédito imobiliário. Segundo estudos da Abrainc, essa mudança pode tirar a possibilidade de ter a casa própria de 13 milhões de famílias brasileiras de baixa renda.
“Com esse limite de juros, que o STF indica que vai fixar, o crédito fica mais caro, e os prêmios aumentam, então será necessária uma renda maior para a família. Muitas famílias não terão condições de pagar e serão excluídas do crédito, especificamente do programa Minha Casa Minha Vida, destinado a essa categoria de pessoas”, explicou Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central (BC).
Assim, ao inviabilizar esse financiamento, a mudança tira a possibilidade de que essas famílias consigam adquirir o próprio imóvel. Além disso, o PIB brasileiro pode cair até um ponto percentual em 2024.
Qual a justificativa do STF para a mudança?
Segundo o Solidariedade, partido que propôs a mudança em 2014, o principal argumento é que a TR não acompanha a variação da inflação e prejudica a renda do trabalhador, por isso o partido propõe não usar a TR como indicador de correção monetária, mas sim o IPCA-E, um INPC calculado pelo IBGE ou outro indicador “desde que seja inflacionário”.
Por fim, o governo se opõe à mudança, afirmando que a mudança levará a efeitos bilionários sobre o fundo, caso precise quitar a renda anterior. Segundo cálculos feitos pelo Ministério da Economia em 2021, a federação precisará pagar R$ 295,9 bilhões para manter o FGTS, caso tenha que atualizar as contas desde 1999.